Pedagogia em vídeo

quinta-feira, 30 de abril de 2009




PROFESSOR NÃO! EDUCADOR SIM!
Por muitos e muitos anos a escola reproduziu da sociedade a máxima de que a educação vem de casa. Vinha mesmo, a educação conveniente aos professores da época: Crianças menos informadas pela mídia então escassa; desprovidas de direitos e obrigadas a se comportar bem cedo como adultos. Aceitavam dos pais a educação pelo castigo, a humilhação e a surra, e chegavam ä escola de "cristas baixas"; quietinhas; reprimidas; sem autoestima. As que eram um pouco mais ousadas amargavam mais torturas físicas e psicológicas impostas pelos professores e permitidas pelos pais, para aprenderem a aprender sem voz nem vez.
Cresci como os de minha geração, e mais ainda os de gerações anteriores, tendo na imagem do professor aquela pessoa que ensinava a ler e escrever, encaminhava para futuras corridas mercadológicas, ainda que na base do cacete, e tinham nisto sua missão cumprida. Fui reprimido como a maioria das crianças quietinhas; boazinhas; "um amor". O que recebia o rótulo de boa educação era produto de uma tirania que contava com o silêncio legal da lei, a falta comum de informações e a "bênção" que reproduzia o caráter de um sistema político repressor.A realidade sempre cruel para crianças e adolescentes, naquele sistema e também no atual, mudou o conceito e de certa forma a nomeclatura genérica do profissional da sala de aula. De forma mais ampla, ele já não é o professor. Pelo menos apenas o professor. Muito embora não deseje assumir na prática esse papel, ele agora é o educador: Deve ser mais do que um mero reprodutor de matérias ou conhecimentos formais. Ensinar e se fazer imitar pelo aluno, com exemplos pessoais de brandura, moral, comportamento ético, exercício real de solidariedade e muito interesse pela vida doméstica do aluno, a fim de ajudá-lo até mesmo nos dramas e conflitos familiares, dentro do seu raio de alcance. O educador já não forma apenas o indivíduo letrado, o futuro profissional. Forma (ou teria que ser assim) o cidadão.
A pessoa que tem um mundo pela frente, uma sociedade complexa e multifacetada para a qual os pais já não querem preparar, nem mesmo de formas distorcidas como faziam nesse passado nem tão remoto.Se com toda a ignorância, rigidez exacerbada e truculência as famílias conseguiam conduzir seus filhos e entregá-los à escola e à sociedade pelo menos domesticadas, simplórias e servís, hoje nem há família, de uma forma geral. Nem mesmo a falta de clareza, escolaridade e cultura em seu contexto formal conseguia levar os pais a abandonar os filhos, entregando-os à própria sorte, ainda que dentro de casa. Hoje o índice de abandono é assustador e global: Muitas crianças nas ruas, sem casa e família, e muitas abandonadas dentro de casa, sem atenção e cuidados. E isso ocorre em todas as classes sociais, fazendo com que essas crianças sejam regidas pelos conceitos perversos da mídia e sua distorção de valores essenciais para a nossa vida.É essa presença, em forma de atenção redobrada; uma palavra mais branda; um olhar menos frio, impessoal e distante; um gesto solidário; a compreensão das limitações do aluno, gerando mais oportunidades, que o educador deste século tem que ter para dar.
Tal presença qualitativa, em seu tempo disponível, é que faz do profissional de ensino interessado em um mundo melhor (somente esse profissional) o ícone do resgate fundamental da cidadania em tempos de grande concorrência desleal. Concorrência da mídia e da criminalidade que atrai o jovem com promessas de poder econômico e de vingança contra uma sociedade que o despreza e pretere desde os pais, e não tem tempo para sequer perceber que está pagando caro por isso.Embora mal remunerado, renegado pelo poder público e sem o devido reconhecimento de todos, o educador atual tem que ser excessão capaz de fazer com que o bom cidadão do futuro não seja excessão. Aliás, ele deve pensar menos no presente, na sua condição de profissional injustiçado que é, e pensar no futuro, a partir da consciência de que seus filhos, netos e extensões estarão lá.
Exatamente no mundo viável ou não, que o educador pode legar para eles, legando para os demais. Neste aspecto, há que se ter pelo aluno a mesma preocupação que se tem por um filho e esquecer os bordões correntes nas salas de professores, como os clássicos "não sou babá de ninguém", "não sou pago para isso" e tantos outros da mesma linha.Temos que parar de reproduzir o comportamento dos governantes, que sabem já nas campanhas para os cargos, de todos os problemas que terão pela frente, se eleitos, a exemplo dos cofres vazios e a velha "casa desarrumada", mas assim mesmo lutam pelo poder... Depois de eleitos, começam a justificar sua inércia, sua falta de ação e o não cumprimento de promessas feitas, usando exatamente esses problemas que se propuseram veementemente a enfrentar. São públicos e gritantes os entraves e as injustiças enfrentadas pelo educador. No entanto, a cada concurso público para o magistério milhares e milhares de pessoas se dispõem a encarar o desafio, pagando as taxas; fazendo as provas; enfrentando os processos seletivos desumanos...
Depois se tornam somente professores precários, com a justificativa dos percalços que são do conhecimento de toda a sociedade.Temos que assumir com totalidade o nosso compromisso profissional, cidadão e humano com o educar. Com esse futuro que está em nossas mãos e na expectativa de cada criança, adolescente e jovem. Uma expectativa que se frustra em casa e recai no educador que não pode "fingir que atua enquanto o governo finge que paga". Precisamos cobrar do poder público e com as "armas" certas de luta e reivindicação, que ainda não sabemos quais, porque todas as que foram usadas falharam. Dessas armas, porém, não podem sair as balas perdidas que matam as esperanças desse futuro com o qual juramos sonhar, porque acertam no coração da ideologia escondida em nossos filhos e alunos. É aí que nos tornamos criminosos sociopolíticos, ainda que sem intencão de matar.Se esse poder público perverso que nos tange como aos bois (porque sempre os devolvemos ao poder) comete os mais hediondos crimes dolosos contra as cidades, os estados, a nação e o mundo, não cometamos nem mesmo os culposos. Com essa consciência é que poderemos formar, em grande quantidade, cidadãos capazes de transformar o sistema. Poder público melhor, país melhor; planeta viável. Tudo isso aos cuidados do educador, que não pode se dar ao luxo de apenas ter curso superior. Tem que ser também superior... Ainda que sofrendo por isso.


Um Abraço, Luiza Ruduit

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